Crónicas De Um Profundo Alentejo

08 dezembro 2005

Alberto e o cão.

Alberto é um peculiar indígena desta terreola perto do sítio onde Judas deixou as botas. Calças puxadas até aos sovacos, óculos tipo ecrân de televisão de armação dourada, olhar desgovernado e faz-se sempre acompanhar de um saco de plástico. Desconhece-se o conteúdo, mas sabe-se que o saco varia. No entanto, esta personagem de aspecto grotesco, conseguiu um grande feito, apesar do chavão que existe... Eu explico. Já ouviram a expressão, e primeiro lema do jornalismo: Noticia não é quando um cão morde um homem, mas sim quando um homem morde um cão? Pois é... Alberto conseguiu-o. Tudo se passou depois de uma sessão de copofonia muito bem conseguida. Alberto sai da tasca, vira na outra rua à esquerda e subitamente é mordido por um cão. Entontecido pelo alcóol e pelas dores excruciantes que um Cocker Spaniel consegue provocar, Alberto, ainda assim, lança-se como uma flecha, num dia de vendaval, em perseguição ao seu agressor. Quando o Cocker finalmente é agarrado, acontece-lhe algo que nunca pensara ser possível. Um homem (sim, um humano) tinha-lhe cravado os dentes na sua orelha esquerda! Sob o olhar incrédulo dos transeuntes, quer cães, quer pessoas, Alberto pousou calmamente o bicho no chão, pegou no seu saco de plástico e continuou o seu caminho, coxeando e cambaleando. E assim foi criada a lenda do Homem Que Mordeu o Cão. Quanto ao cão, esse nunca mais foi visto. De orelha e orgulho feridos deve estar a planear a próxima jogada. Alberto, prepara-te.